É verão? Sinto-me como se fosse Inverno.




Nunca é a hora, nunca é o tempo necessário e nunca estamos preparados.

É doloroso de mais ver alguém partir mas é ainda mais doloroso ver alguém ir embora sem dizer um adeus, ver alguém caminhar sozinho e deixar para trás tudo aquilo que se construiu durante uma vida que tão pouco durou. Dói ver partir alguém que está connosco todos os dias da nossa vida, que nos segura a mão quando o mundo desaba, que nos beija a testa quando a noite chega e que resmunga connosco quando chegamos tarde a casa. Dói. Dói muito. Porque isso nunca mais voltar e os humanos, em toda a sua estupidez humana agarram-se ao físico, ao necessário e ao sólido. Aos abraços, aos olhares, aos mimos ou até mesmo à mais silenciosa presença, mas agarram-se e dói porque ESTAVA LÁ, não falavam um com o outro MAS A PESSOA ESTAVA LÁ e isso era o suficiente. E quando de repente damos conta essa pessoa, essa alma foi-se embora. Não disse adeus, não disse para onde ia nem tão pouco me convidou a ir consigo, apenas foi. E nunca mais voltará. 

Dói mais para quem vai ou para quem fica? 
Para quem parte ou para quem partiu? 
Para quem chora ou para quem cala? 

Não se sabe. Apenas dói. E dói com uma intensidade tão grande que só apetece abrir o peito, arrancar fora o coração e deixá-lo longe para não causar mais dor no meu corpo, ou na minha alma ferida. É uma dor cansativa e uma dor insuportável que traz consigo o vazio e o inverno para dentro da nossa alma e para cada esquina da nossa vida. Erguemos um sorriso para fazer de conta que está tudo bem, para dizer ao nosso coração que deixe de doer tanto, para evitar chorar mais e para parecermos fortes, mas a verdade é que é tudo uma capa, uma capa que colocamos sobre os ombros para parecermos heróis, demonstrando que nada nos magoa, nada nos afeta, que estamos bem e que vai ficar tudo bem. (suspiro). Mas não está tudo bem. O mundo está a desabar, somos crias bebés desamparadas longe da sua progenitora e só procuramos um porto seguro onde ancorar, onde chorar, onde gritar. Estamos em dor e em constante sofrimento. Já não sabemos quem somos nem o que fazemos, não sabemos para que servimos nem para que existimos se tudo aquilo que mais amamos na vida nos foi, traiçoeiramente, retirado. A vida já não é justa para nós e Deus já não existe. Só à lugar para dor e tempo para lágrimas, a companhia é o silêncio e a roupa um amontoado de trapos sem sentido e sem lógica. Mas ao contrário de tanta dor ainda acreditamos, bem no fundo da nossa alma, que um dia tudo vai ficar bem, vamos acabar por concluir que nunca mais nada vai voltar ao normal, mas ainda assim vamos seguir em frente. Sabemos ainda que de vez em quando vai doer e vamos sentir saudades e vai nascer nas janelas do mundo rios e oceanos a querer rebentar pelo rosto abaixo mas depois vamos voltar ao real e vamos aperceber-nos que mais tarde ou mais cedo vamos voltar a reencontrá-los e que a saudade e a dor foram apenas mais umas pedras no meio do caminho. 

E um dia, após muitos outros dias, vamos conseguir encontrar a força na dor, vamos olhar à nossa volta e ver que o mundo tem ainda mais para nos dar do que aquilo que tinha antes, a própria vida vai ganhar um sentido diferente e vamos querer vivê-la a dobrar, porque é quase que um favor que lhe vamos fazer, viver pelos dois. Nessa altura chega a essência daquilo para que nascemos um dia, e cada um de nós, a dada altura, vai perceber o seu verdadeiro lugar no mundo. Não vai ser fácil, mas um dia vamos chegar lá.

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