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Que o mundo seja como essa moeda que tens na mão e te torne tão rica ao ponto de todos os teus bolsos estarem vazios, mas o teu coração nunca fique pobre.

Aleatoriedades

Ja alguma vez vos aconteceu conhecer alguém de forma aleatória e inesperada?
A mim já, mas somente desde que cheguei aqui. Conheci várias pessoas, por espontaneidade do universo, e foram sem dúvida os melhores encontros de que tenho memória.
A maior parte dos encontros foram tao inesperados  que nao deu sequer para gravar na memória os seus nomes, mas também acho que nao era necessario, afinal o nome é só mais um rótulo, que diferenca faria?

Farrah, minha querida Farrah. Convivi mais com ela do que com qualquer outro, todavia o tempo foi demasiado curto. Ficamos a conhecer-nos melhor entre uma garrafa de vinho e conversas de meninas, também fiquei a conhecer mais sobre o ser humano, sobre a matéria de que somos feitos. Guardo dela as melhores e mais surreais historias de amor (ela ia rir muito se me ouvisse dizer esta frase, se ia) 

Félix. Relembrá-lo nao torna as memórias mais lentas, o tempo entre nós passou a voar, e por isso nao o vou fazer, sinto que pronunciá-las vai deixá-las ao vento e estas eu tenho pena se as perder. Conhecemo-nos através de outra pessoa aleatória, a Hannah. Fomos juntos a uma ópera que prometia ser muito interessante mas que, em segredo, admitimos nao termos gostado.
A partir daí tudo deixou de ser aleatório, e passamos a conspirar para que tudo acontecesse: o percurso, a conversa, as cervejas, o comboio, inclusive a despedida.

Bélal, nao consigo lembrar-me dele sem me rir muito alto, aquele riso de fazer lágrimas nos olhos e fazer doer a barriga. Nunca me vou esquecer de como nos conhecemos: Um terrível sábado de manha e eu carregava uma preguica aos ombros por ter de ir para a biblioteca. Decidi parar no caminho para pegar um Coffe To Go e entre a correria de pessoas e a azafáma de alguem ter entornado um cafe no chao e ter criado uma confusao enorme, consegui pedir o meu Gross Milchkaffee. Dirijo-me a um balcao lateral, onde estao as colheres, as tampas para por na embalagem do café e o acucar, e deparo-me com alguem no meu caminho, mesmo à minha frente e de costas para mim, praticamente a dancar o Chá-Chá-Chá na tentativa de arranjar um espaco no balcao para eu preparar o meu café. Falou qualquer coisa em alemao ao que eu respondi: "Keine Deutsch". Rimo-nos muito: ele por causa do que eu tinha acabado de dizer e eu porque percebi o quanto desajeitado ele era, triplamente pior do que eu. A partir daí deixou de ser aleatório, e eu descobri que a confusao na coffee shop tinha sido criada por ele, que era meio persiano meio alemao, que estudava uma engenharia e que nao conhecia Hardy, isso ditou o fim do nosso encontro. Espero que ele nunca saiba disto, mas gostava de o ter conhecido um pouco mais, ele era uma catástrofe com pernas.

Farrah, Félix, Hannah, Bélal, Foad, Susi, Tom, Aline... voces nunca vao ler isto, mas obrigado por terem aparecido pelo caminho. Cada vez acredito mais que cada ser humano que cruza o nosso caminho traz algo a acrescentar à nossa vida, tem um propósito maior e as suas acoes nao acontecem em vao. Entre repercursoes positivas e negativas, entre ensinamentos mais ou menos profundos gostava de agradecer ao universo por os ter colocado no meu caminho e por me deixar tirar da sua presenca coisas boas, coisas mas, coisas embaracosas e coisas engracadas. Que o universo nos una se assim o quiser ou que nos relembre uns aos outros, aleatoriamente ou nao. Obrigado.

Obrigado

Obrigado por teres ido embora e por me teres ensinado que as melhores oportunidades da vida surgem quando estamos distraídos, quando não esperamos que nada aconteça. Eu acredito que se tivesse desejado que tudo acontecesse tal e qual como aconteceu, nada teria dado certo. Foi precisamente por ter sido inesperado que foi tão belo e por ter sido tão curto é que foi tão intenso. Eu não quero que dure mais tempo, e ainda que me custe, quero que o resultado final continue a ser este mesmo, porque foi tão bom assim que, alargar o tempo, só poderá estragar tudo. Óbvio que hoje queria que os nossos lábios se tivessem conhecido melhor e que os nossos dedos tivessem descoberto mais do que aquilo que descobriram, mas o que demos um ao outro foi o suficiente para perceber  que menos é mais. Obrigado por não me fazeres querer mudar o passado. A verdade é que tu tão pouco me fazes ter vontade de voltar atrás. Se hoje, agora, neste exacto momento, tivesse a oportunidade de voltar, eu não ia mudar os erros, não ia acrescentar palavras ou preencher o vazio, eu só ia pedir para voltar ao momento em que nos encaramos embaraçosamente, por tempo infinito, e em que tive o teu rosto gelado entre as minhas mãos, porque foi aí que percebi, bem dentro dos teus olhos, que a vida é muito mais do que aquilo que eu imagino. Tu fizeste-me ver que o tempo tem este poder em nós, de nos levar à loucura, à fugacidade de viver, de nos espicaçar, de nos tentar a saltar, a abrir a porta, a carregar no botão, a beber mais um gole. Tu fizeste-me ver que é nele que devemos procurar a motivação para dar o passo seguinte, porque ele não espera por nós, nunca vai esperar. E se nós sabemos que o relógio não pára, só temos duas opções: ver o tempo passar ou correr ao mesmo compasso que ele. Obrigado por me teres feito correr, por me teres levado a contar cada minuto enquanto estava contigo. Não sei porquê, mas os nossos relógios não entraram em sintonia e por isso um de nós ficou para trás. Perdi a conta à quantidade de vezes que me pediste para parar de olhar para o relógio e simplesmente confiar em ti, mas eu nunca consegui desviar o olhar da torre do relógio. A verdade é que eu podia ter corrido mais, podia ter sido mais audaz, mas tu também me ensinaste que tudo na vida tem o seu momento, e por isso é que parei de correr. O relógio continua a funcionar e ele esta a levar-nos para algum lugar, em breve saberemos qual. Obrigado por teres ido embora mas por me deixaresorrisos ao invés de lágrimas. 1:30h.

Queria ter dito isto a mim própria

"Querido Eu,


Bem, para começar - eu estou tão orgulhosa de ti. A vida não tem sido fácil ultimamente, e eu tenho muita pena disso. Mas apesar de tudo, tu tens feito os possíveis e impossíveis para manter a cabeça erguida e tu estas a ir muito bem, por isso continua a lutar.

Fica orgulhosa por tudo o que tu tens passado, e acima de tudo, de tudo aquilo em que te tornaste.

Deixa de ser tão dura contigo própria. Um dia tudo vai fazer sentido. Toda a dor, mágoas e frustração vão começar a valer a pena. Lembra-te, tudo acontece por uma razão em particular. Tu estas exactamente no sítio onde deves estar agora. Por isso respira, sê paciente, e acredita no percurso da tua vida. Deixa ir todas as preocupações que criaste na tua cabeça. Aceita a realidade como ela é. Aceita a vida pelo que ela é.

Ainda que tu penses que tu estas destruída ou destroçada existe tanta beleza nessa dor. Tu és mais forte do que qualquer outra coisa que alguma vez te tentou deitar abaixo. Tu és uma sobrevivente, não uma vítima. Ambos sabemos que agora tu estas a fazer o melhor que podes - celebra isso. 

Cria um significado para a tua vida através do qual te consigas orgulhar. Promete-me. Tu não vais deixar que ninguém interfira no caminho que tens traçado para atingir os teus objectivos. E mais importante do que isso, nunca desistas das tuas paixões e dos teus sonhos. Não gastes o teu tempo com pessoas que não acreditam em ti. Tu não precisas desse tipo de pessoas na tua vida. Apenas deixa que te circundem aqueles que te encorajam e inspiram.

Ajuda os outros. Sê uma boa amiga e certifica-te que és boa também para a tua família. Sê altruísta, não egoísta. Ama como se nunca tivesses sentido dor. E se, por acaso, não encontrares a força para o fazer, por favor, certifica-te que vais encontrar amor para te amares a ti própria.
Tu és tão forte minha querida. Tu tens passado por tanta coisa e só tens saído a ganhar no final. O mundo tem tentado deitar-te a baixo, mas tu nunca das o braço a torcer. Agradece o teu passado, foi ele que te tornou numa pessoa melhor hoje.

Obrigado por nunca teres desistido e por seres tão difícil e resistente. Tu inspiras os outros e tu mudas as suas vidas. Continua forte. Permanece firme. Sê mais bonita do que nunca. Faz com que eles se questionem como e que tu conseguiste chegar aqui. Tu sabes que mereces o mundo, Agora corre e vai busca-lo."


Perder o controlo

Tem coisas que só descobrimos sobre nós, quando a vida nos testa. É surreal como permanecemos incógnitos a nós mesmos até esse dia chegar e como achamos, pobres ignorantes que somos, que nos conhecemos na totalidade. Eu acho que a beleza da vida reside aqui, na constante descoberta de fracções de nós mesmos, de pedaços que constroem o nosso todo. Tenho aprendido muito sobre mim. Talvez porque estou entregue a mim mesma, talvez porque fui abandonada (por livre vontade minha) pelas preocupações rotineiras e corriqueiras, e tudo o que me resta agora é olhar para mim, preocupar-me comigo, lidar com o meu Eu a tempo inteiro, no meu melhor e no meu pior. Eu descobri que gosto de ter controlo sobre as coisas, de conseguir lidar com tudo o que me aparece na frente, de ter uma solução imediata, de saber que sou eu que controlo a minha cabeça e a minha mente. Só que eu agora entendo que a vida não é assim e nem tudo é controlável, há coisas que não se domesticam, e as emoções são uma delas. Não posso querer ser muito feliz, nem posso querer conter a alegria no meu coração para não parecer tonta. Não posso querer parar de chorar, como não posso aprisionar as lágrimas dentro de mim. Hoje eu tento não me privar de sentir aquilo que a vida me propõe, se ela me dá amor eu vou aceitá-lo, se ela me dá tristeza eu vou guardá-la e lidar com ela e se ela me dá dor eu vou aguentá-la e esperar que vá embora. É assim que tem de funcionar, é este o processo natural. Deter o controlo garante que estamos preparados para as consequências do futuro, mas largar mãos dele permite que sejas surpreendido pela vida, que sintas tudo originalmente pela primeira vez, sem uma preparação prévia. Perder o controlo obriga-nos a viver no improviso e isso é tão selvagem e tão libertador. As consequências passam a ser situações hipotéticas, sabes que vão surgir, mas também sabes que na altura irá aparecer uma solução. É angustiante pensar que não me conheço, que não sei os meus limites nem as minhas fragilidades, mas é tranquilizante saber que pelo menos hoje me conheço um bocadinho melhor do que ontem.

problemas

Quando pensamos que mais nada pode correr mal, é quando algo ocorre mal. Até aquilo que tem tudo para dar certo vai correr mal, hoje estou mentalizada disso. As coisas aqui estão longe de serem perfeitas (e ainda bem), quando algo de muito bom me invade, algo de mau surge por trás, esse é o percurso normal da vida, mas só desde que cheguei aqui é que percebi isso. Porquê? Porque estou sozinha e aqueles a quem quero pedir ajuda não me podem ajudar. Por isso, todos os problemas (até os mais absurdos) são uma tempestade. Depois de tantas catástrofes eu dei por mim à janela do meu quarto a pedir ao universo uma bênção, uma coisa boa, algo que não me fizesse querer desistir, algo que parasse as minhas lágrimas. Eu percebi que quanto mais ansiava isso, menos encontrava algo bom para me surpreender e fazer ficar. A vida encarrega-se de nos trazer, de bandeja e mordomo, as coisas boas, mas isso só vai chegar quando ela quiser, porque somente ela sabe quando é que realmente precisamos delas. É doloroso compreender isto, no fundo, estou a mentalizar-me que, quer queira que não, vou ter de sofrer, mas é ao mesmo tempo desafiador saber que amanhã tenho de vencer mais um desafio e que no final do dia vou colecionar mais um troféu.