memories from 24.04.2012
"Ela não deseja muito mais do que aquilo que sabe que pode ter. A exigência serve-lhe em bandeja de ouro, durante dias a fio, uma inavegável bússola de orientação no seu imenso mapa, naquele que, mesmo sendo dela, não o interpreta como tal. Não é uma rapariga perdida, não se autogoverna por as intempéries do coração, segue sempre a sua razão, sendo esta, influenciada por o sentimento que agora é incerto e outrora foi correto. Ela é inconstante. Ela muda, tal como as luas; ela luta, tal como os soldados; ela desaparece tal como o vento, mas continua a ser ela e será sempre ela. Para ela a vida é exatamente como o pôr-do-sol que tanto venera, este não dura para sempre e por vezes pode ser radiante e alaranjado, assim como vazio e monótono, mas ainda assim, acha-o fantástico por o poder contemplar, sozinha ou até mesmo acompanhada pela solidão. As incertezas, apesar de muitas vezes camufladas por o flagelo que guarda no semblante das memórias, são postas à prova. São espinhos em rosas, são balas em feridos, são canhões em guerras e são dores em enfermos. Estas podem ser o trunfo, no jogo da vitória e da derrota, que a leva à incerteza de caminhar sobre um fio, ou sobre o próprio vazio. Não é escuro mas também não é óbvio, é simplesmente aquilo que ninguém, algum dia, ousará desvendar. Não é um ninho de cobras, não é um ninho de aves, é simplesmente o mais belo segredo que alguma vez se terá visto. A incógnita da sua própria existência, leva-a a cometer o pecado que é descrito como imortal, a diferença entre o igual e o desigual, origina em si a obsessão de ser imortal tal como o pecado que a tenta. Ela crê em histórias de amor, em verdadeiras histórias de amor, no entanto, sabe que lhe passam ao lado como o vento, e que as intempéries da felicidade conspiram contra si, fazendo voar todo o motivo que existe no mundo para ela ser feliz, mas tal como soldados, e estes não são de chumbo, ela luta como se não houvesse amanhã, ela procura e busca como se fosse um cão de guarda. As pessoas, aqueles que tanto a rodeiam, podem considera-la como louca, impertinente, infeliz e talvez quem sabe, sozinha, mas a verdade é que tudo isso é mesmo verdade e que nada disso a aflige, pois a vida que lhe foi dada no momento em que nasceu, foi-lhe também roubada. Mas afinal, quem será esta caricata personagem, que vive no mundo limiar e incerto da existência e da “não existência” da vida? Não é segredo, não é mistério, essa pessoa é nada mais, nada menos, aquela que profana as palavras em terceira pessoa, tentando esconder do mundo aquilo que um dia foi descoberto."