Chapter II - Into the Wild

Dia 3.01.2015 | 17:43h


Este ano comecei-o de forma bastante peculiar, comparada aos anos anteriores. Ao fim de duas semanas a esgotar o stock de lenha que tínhamos armazenado para as épocas festivas, hoje pela manhã fui para buscar um cesto de lenha e deparei-me com ele praticamente vazio, considerando que o frio está longe de se ir embora e como não queremos dar pressa [ao frio] para partir, eu a minha mãe e o meu pai decidimos que não havia nada melhor a fazer que ir buscar lenha.

Como o espaço de armazenamento de lenha que temos cá em casa é limitado, temos constantemente a necessidade de ir abastecendo o stock, este ano foi ainda mais complicado abastecê-lo porque tivemos uma forte época de chuvas que não nos permitiu ir buscá-la. Cá em casa temos o aquecimento central que alimentado pelo gasóleo deixa a casa tão quente como o quente Alentejo no Verão, porém e felizmente os meus pais sempre deram mais valor ao velho ritual da lareira ao invés da outra alternativa e então, a não ser em casos urgentes como secar roupas mais importantes para o dia seguinte, raramente utilizamos o aquecimento central o que é ótimo para a carteira e para o ambiente.
Fomos então, depois do almoço, dar um passeio pelo Monte Galeão e apanhá-mos a lenha que pudemos. Senti-me revitalizada ao começar o ano assim, porque pelo menos naquelas duas ou três horas deixei de pensar em tudo e apenas fui vendo e sentindo aquilo que a natureza me dava tranquilamente, sem pressa nem confusão fui respondendo em uníssono e já há muito que não sentia aquela tranquilidade e paz.
Fiquei encarregue de carregar e empilhar a lenha no carro e apesar da dificuldade em pegar em mais de 8 paus ao mesmo tempo debaixo do braço lá fui fazendo a minha tarefa sobrando-me tempo para procurar folhas, paus mais finos e pinhas. Durante o meu árduo trabalho fui-me lembrando de Thoreau durante a construção da sua casa e das suas investidas pelos bosques do rio Walden à procura de lenha para a sua lareira. Tal como Thoreau, fugia sempre aos trilhos sinuosos da mãe natureza e procurava dentro dela algo aprazível e fantástico, que não se encontra junto da urbanização e da sociedade. Os únicos barulhos que ouvia eram os da serra a serrar a lenha e os do machado a partir os troncos mais fortes.
Pelo caminho encontrei, e mais tarde o meu padrasto contou-me a história toda, um velho e abandonado moinho de vento, que apesar de solitário me pareceu cheio de recordações e histórias. Estou sempre a invejar Thoreau por ter construído a sua casa no meio dos bosques e naquele momento, quando avistei o abandonado moinho, percebi que aquele também poderia ser o meu canto fora do mundo, por meros minutos imaginei que estava ali a construir a minha fortaleza e que deixando a construção tal como estava só lhe acrescentava um teto abrigado para o Inverno mas com uma enorme clarabóia para poder ouvir e ver as estrelas a falar da lua, e construía, com as pedras que ia encontrando pelo caminho, uma lareira para me aquecer nas noites mais frias e a partir destas simbólicas modificações ficaria tudo intacto e natural sem qualquer tapete ou cortina deixando assim a natureza tomar conta daquele espaço, sempre disponível para qualquer aventureiro que quisesse viajar comigo por mundos lunáticos e filosóficos.
Apesar de terem sido meros minutos senti que deixei ali uma construção parte de mim e sei perfeitamente que aquilo de pouco ou nada me será útil uma vez que aquilo é uma propriedade com dono e nunca será minha, porém gostei do misto de sensações que aquele lugar me fez sentir e gostei de igual modo do abraço da natureza. É um lugar mágico, e qualquer um de vocês deveria visitá-lo. Por enquanto vou me deleitando com a lenha que arrecadei e, se mais força o universo me der, mais vezes o irei fazer, no final de contas quem corre por gosto não cansa.

Out of Time

A política foi criada pelo homem, não a política dos nossos dias é claro, mas foi criado por ele um núcleo de modo a garantir a estabilidade e a concórdia para promover a coexistência social necessária para a paz! Será esta minha afirmação verdadeira ou falsa? Até que ponto o objetivo da política (e atenção que falo de política e não de partidos) está perto de manter em qualquer parte do mundo a coexistência entre os seres humanos?
O meu “sistema operativo” hoje deve estar avariado porque eu não encontro em lado nenhum do Mundo uma política que promova tudo o que mencionei anteriormente.

Hoje a realidade para mim é que as pessoas não sabem lidar com a política e não sabem (ou não querem) utilizá-la para responder às verdadeiras necessidades do ser humano e tudo isto é semeado hoje para o dia de amanhã e tem originado frutos, bem peculiares, onde podemos observar uma luta forçada de seres humanos à procura de um estatuto social forte à medida que vai avançando uma guerra silenciosa em que cada partido se ataca mutuamente o que por sua vez não simplifica o esquema e a cada dia que passa ele se assemelha cada vez mais a uma charada e enquanto isso vão se esquecendo que a prioridade do ser humano seria nascer e viver na plenitude e não nascer para viver num labirinto até aos últimos segundos de vida. 
Sim, para mim o mundo é cada vez mais um labirinto e se me pedissem para o caracterizar num cartoon era um labirinto sem solução que eu desenhava e ainda colocava uma legenda dizendo que algo não está a deixar que o ser humano partilhe e desfrute da verdadeira origem de se viver pois ele é constantemente obrigado a procurar uma saída para poder respirar suavemente e desfrutar do simples facto de se estar vivo. E querem que vos comprove isto?

Quantas vezes, é que vocês já pararam para pensar que estão vivos? 
Nunca? 1 vez? 20 vezes? Todos os dias?

Eu não estou a dizer que a vida deve ser pensada ou programada a cada segundo mas ela deve ser vista como um processo e por isso mesmo deve ser apreciada e lentamente saboreada, porque nós estamos vivos mas também podíamos estar mortos certo? 
Sou apologista que se viemos parar aqui é porque não foi em vão portanto foi com um propósito, agora pergunto: Se nós nascemos para atingir um objetivo porque é que, diariamente, existe uma força extra que me obriga a optar por um ou vários caminho que não me vão fazer realizá-lo? E pior ainda: porque é que eu tenho que obedecer a isso se sou livre?

É este processo que a política interrompe. Não é só a política, mas misturada com mais uma centena de "pózinhos de magia" contribui para a vida do ser humano parar e entrar num estado em que existe um objetivo estandardizado e igual para todos onde a intenção não é descobrir a vida mas sim perceber como sobreviver no meio do caos e em como garantir uma estabilidade pessoal de modo a não perder tudo aquilo que se construiu até à data.

Consequentemente isto origina um individualismo humano e que como podem perceber não traz paz nem harmonia, antes pelo contrário torna-se a pólvora de toda a guerra que se vê pelo mundo fora, no entanto hoje estou perita a criticar mas muito má no que toca a resolver o problema em si pois ainda me questiono de qual será a solução? Melhor: Será que existe uma ?
Já à muito tempo que gostava de ter partilhado isto mas nunca consegui formulá-lo em palavras até porque nunca falei com ninguém sobre esta minha perspetiva, como é obvio eu sei que isto está longe de se assemelhar com a realidade mas hoje, ao fim de um dia tão complexo é esta a conclusão que retiro do mundo e daquilo que tenho vivido.

Por um lado acho que a politica é o nosso pilar e sem ela a existência humana seria como o pó porém  acho que aquilo que nos cura também nos pode matar, é tudo uma questão de tempo, a grande questão é: Quanto mais tempo é que nós temos?