Uma noite de insónia leva-me ao
abrigo da noite, pego numa manta e garanto-me que de mais nada preciso. As
noites são todas iguais, pelo menos, aquelas que são vistas do pátio da minha
casa. A minha solidão e empatia ajudam-me a ouvir o sussurrar noturno. Por
vezes, em períodos de silêncio de 5 segundos, deparo-me com o facto de o mundo
quase estagnar, ele perde a força e congela no tempo. Esse breve silêncio, essa
breve calamidade é dissipado por uivos, motas e carros que atravessam caminhos
em ondas sonoras até mim. Pressinto, bem profundamente, que algures no mundo e
num espaço, existe um outro alguém que tal como eu está à deriva no escuro como
um barco naufragado. A noite é desamparam-te e traiçoeira, traz consigo as mais
insólitas tentações e perigos alucinantes. Encontro-me aqui, no vazio eterno e
estou exposta a estes perigos e tentações, a única companhia que tenho é a luz,
proveniente da lua -a estrela de todas as estrelas- que imitando o sol e
transmitindo uma luz baça, vaga, calma e perpétua está em complô com toda esta
muralha que separa o real do irreal. Assustadora, irreverente, secreta e fatal,
assim é esta noite que, garantidamente, em nada mais me pode servir, assim como,
nada eu lhe posso oferecer. Tem o meu semblante para iluminar e a minha alma
fugaz e viva para acalmar. Afasto-me do meu corpo e de toda a presença física,
perco-me nesta infindável escuridão e ganho a certeza que os meus olhos não
serão mais o espelho da minha alma, serão infinitamente, o reflexo de noites
insanas e impróprias, onde a lua, as galáxias, os ventos e o universo se juntam
comigo conspirando a minha existência. Sou levada a caminhar sobre praias de
memórias e a correr por vales de altas e baixas sensações. Já não sou humana,
sou uma brisa e ando a rodopiar, bailando, por entre o silêncio ensurdecedor
que cada rua contém. Imagino tudo o que desejo, confesso ainda gritando, tudo
aquilo que não vejo, mas a culpa não será minha, a culpa é da noite que roubou
de mim a minha lucidez e o resto de sensatez que ainda tinha.
estou perdida num turbilhão de sentimentos
numa taça de esparguete à bolonhesa
numa galáxia desconhecida
numa multidão em festa
em uma montanha russa
em um grão de areia
num oceano infinito
em ti.
Um dia caí e esfarrapei o joelho. Lembro-me que chorei muito e lembro-me também que a ferida não era assim tão grande, não era nada de grave. Porque estava eu então a chorar?
Hoje eu entendo, através desse dia, que o que nos faz chorar não é o que nos acontece, mas as consequências do que ai advém, a cicatrização. O curar e deixar que a dor passe e um dia desapareça. E porque é que choramos por causa disso? Fácil, porque não podemos controlar o tempo, não sabemos quantos mais dias vamos sofrer, quanta mais dor o nosso corpo vai ter de suportar. A dor que sentimos no momento é real, dói até ao osso mas as lágrimas não partem dela, partem da incerteza de quando vamos deixar de a sentir.
Estarei enganada?
Choravas na mesma se soubesses que a tua dor ia durar somente um minuto?
Mesmo que isto seja uma alucinação da minha cabeça, quero continuar assim, insana e louca, durante o tempo que for possível porque amar-te tem sido a atitude mais lúcida da minha vida. A adrenalina de te amar, de te conhecer, de te deixar explorar-me, de te deixar destruir e instalar o caos na minha vida mantém-me viva e acesa.
que medo
amar e ser amada
neste enredo
de um dia ensolarado
onde eu estou perdida e desnorteada
se me amas
e se queres ficar
vamos pelas ondas
de mãos dadas, por esse mar
se não me amas
e se não queres ficar
eu dou-te asas
e tu podes voar
Esta é mais uma das contradições da minha vida: Não quero que me olhes assim, mas por favor não pares, não os feches e tenta-me sempre. Tu não sabes, mas está tudo no teu olhar e foi com ele que me agarraste e é com ele que, se quiseres, me mantens refém. As vezes quero pedir-te para parares de olhar para mim
porque os teus olhos conseguem despir-me e conseguem mexer com toda e qualquer parte do
meu corpo. Não sei como é que aconteceu, como é que tens esse poder em mim, mas a verdade é que o teu olhar é desconcertante, tira-me o fôlego. Não consigo conter o êxtase
e faes-me passar dos meus limites apenas de te olhar nos olhos. Irrita-me que me desconcentres tanto que não te consiga contemplar. É frustrante porque tenho-o de o fazer quando estas de olhos fechados ou desatento, quando estas a fumar ou a ouvir a música tocar, quando estas a olhar para o telemóvel, quando estas a falar com alguém. Um dia vou conseguir fazê-lo olhos nos olhos e espero que apartir daí ambos fiquemos nus infinitamente.
O amor não bate à nossa porta. Ele entra, bem devagarinho, pela janela entre-aberta. Percorre lentamente o seu caminho, desviando da prateleira cheia de romances e do sofá cheio de memórias, chegando até a fechadura desgastada do nosso quarto. Acelera-nos o coração. Ele chegou. Os bichos assustam-se, dá-se um alvoroco desmedido. Então ele desce, rastejando pelo chão sem qualquer dignidade, e te encara, frente a frente, como se fosse a primeira vez que o visses na vida. Ele impoe medo, obriga respeito, tal como o mar e a sua vastidao. E não adianta esconder debaixo das mantas do passado ou ir contra as vontades do nosso amago. Os conselhos e as feridas ainda por sarar, nunca serão um motivo forte o suficiente para lutar contra ele. E o lado bom deste medo, é que o final da história não existe até que ela efetivamente comece, entao é isso que tens de agarrar. E o lado mau? Antes de dormir, agora, fazemos planos e sonhamos com esses planos a noite toda. Pequenas pistas são deixadas no caminho e nao tenhas medo de as seguir, o caminho pode ser turtuoso, mas a meta vai fazer tudo valer a pena. Keep on track.
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