Simbiose perfeita

Toda a moeda tem um reverso. Toda a roupa tem um inverso. E todo o bem tem um mal. O dia é a minha fonte de energia e eu falo, caramba como eu falo. E penso. Penso. Leio. Estudo. Corro. Como. Ouço música. Danço. Choro. Rio. 
Mas à noite sou um inverso, um oposto talvez, e fico taciturna. Eu fico assustada com isso. Sou uma simbiose perfeita e eu tenho perfeita noção disso. O que é ainda mais assustador. No exato momento que vejo o sol deitar-se tento absorver tudo dele, como se pudesse guardar um reservatório de energia para depôs usá-la como escudo. É como se a noite me conssumisse e eu me tornasse simplesmente num ser volátil adquirindo grande parte das suas propriedades. Como eu gostava que fosse diferente. Que o sol nunca desaparecesse. Que as cores fossem mais do que meros tons escuros e escuros e escuros. Que a claridade fosse tal que me pudesse cegar. Ao invés sou gelo. Sozinha. Fúnebre. Eu nem sei o porquê, e talvez venha daí o meu medo, por muito que tente encontrar uma solução que me conforte não o consigo fazer. É por isso que sou noctívaga, tento canalizar o meu medo e escrevo. Deambulo. Penso. Mas na verdade simplesmente escrevo. Vagueo pelas palavras tornando-as inócuas, legitimando assim a minha ousadia e talvez a minha força. A que não existe. Ou será que existe? Eu fico confusa e com medo. É como se fosse uma prisioneira deste poço escuro. É por isso que eu adoro a luz. O dia. A vida. O vento. Os sentimentos. A folia. A adrenalina. É por isso que vivo. Pela luz. Pelo sol. E um pouco pelo universo. Eu nunca consegui falar ou expressar isto, já tentei procurar uma saída mas ela só é útil por um pequeno espaço de tempo. Depois o caminho volta a ficar tortuoso e eu tenho de voltar a arranjar uma maneira de me soltar. Isto é insuportável, porque é assustador e perigoso. Cansativo. 
Quando me começo a habituar eu deixo de ter tanto medo, acho que é aí que adormeço e que a batalha acaba. Mas a guerra continuará em breve. A melhor parte é  o que se atravessa nesse limbo, o dia. E é aí que eu recarrega baterias, atesto o reservatório e me preparo para outra batalha. Eu acho que um dia vou ganhar a guerra. Um dia eu vou ganhar. Um dia. Ou uma noite. Por enquanto vou vivendo neste corpo e nestes dois mundos. No meio destas duas forças que estão para lá de qualquer universo. 
Estou assustada, tinha de te escrever.

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