Perder o controlo

Tem coisas que só descobrimos sobre nós, quando a vida nos testa. É surreal como permanecemos incógnitos a nós mesmos até esse dia chegar e como achamos, pobres ignorantes que somos, que nos conhecemos na totalidade. Eu acho que a beleza da vida reside aqui, na constante descoberta de fracções de nós mesmos, de pedaços que constroem o nosso todo. Tenho aprendido muito sobre mim. Talvez porque estou entregue a mim mesma, talvez porque fui abandonada (por livre vontade minha) pelas preocupações rotineiras e corriqueiras, e tudo o que me resta agora é olhar para mim, preocupar-me comigo, lidar com o meu Eu a tempo inteiro, no meu melhor e no meu pior. Eu descobri que gosto de ter controlo sobre as coisas, de conseguir lidar com tudo o que me aparece na frente, de ter uma solução imediata, de saber que sou eu que controlo a minha cabeça e a minha mente. Só que eu agora entendo que a vida não é assim e nem tudo é controlável, há coisas que não se domesticam, e as emoções são uma delas. Não posso querer ser muito feliz, nem posso querer conter a alegria no meu coração para não parecer tonta. Não posso querer parar de chorar, como não posso aprisionar as lágrimas dentro de mim. Hoje eu tento não me privar de sentir aquilo que a vida me propõe, se ela me dá amor eu vou aceitá-lo, se ela me dá tristeza eu vou guardá-la e lidar com ela e se ela me dá dor eu vou aguentá-la e esperar que vá embora. É assim que tem de funcionar, é este o processo natural. Deter o controlo garante que estamos preparados para as consequências do futuro, mas largar mãos dele permite que sejas surpreendido pela vida, que sintas tudo originalmente pela primeira vez, sem uma preparação prévia. Perder o controlo obriga-nos a viver no improviso e isso é tão selvagem e tão libertador. As consequências passam a ser situações hipotéticas, sabes que vão surgir, mas também sabes que na altura irá aparecer uma solução. É angustiante pensar que não me conheço, que não sei os meus limites nem as minhas fragilidades, mas é tranquilizante saber que pelo menos hoje me conheço um bocadinho melhor do que ontem.

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